sábado, 14 de novembro de 2009

Um conto para Marcelo

Passava das tres da madrugada e lá estava ela morrendo de saudades,maltratada pela distância e mergulhada numa crise de carência terrível.No auge da situação,não tinha condições de avaliar se existia mesmo a fidelidade que tanto cobrava do namorado.Para laura não havia no Mundo algo tão dificil do que a falta que sentia de Marcelo.E era a falta afetiva,física,uma vontade inexplicável de tê-lo por perto e um ódio igualmente inexplicável de não poder tê-lo.Sabia que os reencontros eram sempre mágicos,maravilhosos,mas Laura queria trocar tudo,toda a adrenalina que tinha nesses momentos pelo fim da distância,porque não existia nada no Mundo capaz de amenizar o sentimento dessa saudade.Apesar de tudo queria muito continuar com Marcelo.Queria porque tinha vontade,porque desejava e não porque estava escrito nas estrelas ou coisas desse tipo.Laura até passou a acreditar que o Universo conspirava contra ela.Fechou os olhos e pensou em todas as coisas legais que existia no Principe.Isso mesmo,Marcelo pra Laura era o Principe,porque ela era fascinada pelo seu sorriso e pelo jeito de como ele a fazia sorrir também.Adorava o jeito como ele a olhava e como só ele conseguia deixá-la paralisada,sem jeito,sem saber o que fazer e dizer.Gostava de vê-lo calado,só a observando.Tinha dias em que Marcelo fazia graça e falava besteiras ao telefone,e Laura adorava...Cada gesto,cada palavra,cada sussuro em seu ouvido,o cheiro da sua pele,seus beijos,seus abraços,suas manias e seus vícios,a sua forma de encarar a vida,tudo fazia com que Laura se apaixonasse cada dia mais e com mais intensidade.E Marcelo era assim,meio distraído,desatento,comia a metade do hamburguer de Laura,falava dormindo a noite,roncava,mas tinha a maior paciência do Mundo com a namorada e sempre a ouvia sem reclamar e a aturava todas as vezes em que Laura desejava que o Mundo todo explodisse. E era por isso que Laura muitas vezes se calava e não brigava com Marcelo.Queria preservá-lo,não podia magoa-lo.A história dos dois era uma história com poucos episódios,poucos momentos juntos e de sofridas distancias,era uma história curta, que ainda estava em seu início,mas significava muito para Laura.Amanheceu e Laura ainda estava consumida pelo ciume e pela possessividade.Entendia que não podia ser assim,mas só ela sabia o quanto era complicado manter o controle. Lavou o rosto,escovou os dentes e se sentou a mesa para tomar o café da manhã. Olhou para o relógio em cima da geladeira.Sete e quarenta e cinco da manhã.-Droga,a hora não passa!Exclamou nervosa.Definitivamente as horas não passavam quando Marcelo estava longe.Ouvia sua mãe dizer repetidas vezes que as horas voavam e que tinha que correr para fazer tudo ao seu tempo.Podia até passar,pensava Laura,pra quem tem a pessoa que ama ao lado,que pode ver quando bem quer,que pode marcar um cinema,que pode fazer planos.Agora para Laura Prestes Ventura que contava os segundos,os minutos e as horas para o próximo encontro,o tempo parecia não passar.Chegava o Natal,as Olimpiadas,o Ano Bissexto,a Copa do Mundo,o Apocalipse,mas não chegava o seu dia.E quando depois de muitas unhas roidas,muitas lágrimas derramadas e muitas crises de gastrite nervosa esse dia finalmente chegava,aquele tempo que a martirizou tanto quando demorava a passar,em requintes de crueldade passa rapidamente.Aí é que começava tudo de novo.O aperto no peito quando Marcelo ia embora e a contagem regressiva para o proximo encontro.Resolveu então reencontrar os amigos Julia,Léo,Gabi e Fernando.Aqueles mesmos amigos que abandonou quando se julgou apaixonada e capaz de viver só de amor.-Cinema.Hoje é um ótimo dia para ir ao cinema,está passando um filme ótimo que eu estou doido pra assistir,qual é o nome mesmo Julia? dizia Fernando empolgado.-Sonhos de uma noite de Verão.E´uma adaptação a obra de Shakespeare. dizia Julia interessada em assistir ao filme.Seria mesmo um excelente dia para assitir a um filme se Laura não tivesse observado um pequeno detalhe.Todos alí eram casais e ela detestava segurar vela.-Não fica assim não Laurinha,quando eu falei que você vinha, o Edu disse que vinha correndo.Ele já deve estar a caminho,só pra te fazer companhia- Dizia Julia tentando reanimar a amigaComo se não bastasse ter que sair sozinha,sem seu namorado,ter que frequentar lugares onde só existem casais,tinha que aguentar de quebra Eduardo te cantando.Não.Isso era demais para Laura.Decidiu então ir para casa.E se Marcelo estivesse no msn,só esperando por ela?Se estivesse doente,precisando de carinho,de atenção,de uma palavra de conforto?Sua consciência começou a pesar.Olhou para a porta principal do Shopping e de lá avistou Edu afoito para vê-la. Laura naquele momento desejou sumir,ser abduzida,sequestrada,qualquer coisa pra não ter que passar por aquela situação constrangedora.Tarde demais, porque Eduardo já estava lá,super a vontade com as mãos em sua cintura,querendo tomar o lugar que já era do Marcelo.-Não está mesmo com vontade de ir ao cinema Laurinha?-perguntaba Edu com aquela voz de criança manhosa quando quer muito um brinquedo.-Não Edu,eu não quero ir ao cinema.-responde Laura friamente.-E tudo isso é por causa de quem?-pergunta Gabriela ansiando por uma polêmica.-Do tal Marcelo que ela nem sabe se gosta mesmo, mas que fica aí cheia de saudades só por que o cara ta longe.Se ele estivesse aqui agora,aposto que ela tava esnobando.-responde Léo, esperando uma resposta da amiga que continua calada.-Ei galera,vamos fazer uma campanha para Laura voltar pro Edu?Eles fazem um casal lindo.-apelou Julia.Pra Laura aquilo foi a gota d'água.Ouvir piadinhas de mau gosto sobre seu namoro ela até aturava,mas daí ver seus amigos querendo realizar uma campanha pra aproximá-la de Edu foi demais.Achou um abuso,uma falta de respeito,o cúmulo do absurdo.Sentiu ódio dos quatro amigos;afinal,quem eles pensam que são?Não tem esse direito de se intrometer assim na sua vida.-Cadê o Marcelo uma hora dessas?-pergunta Edu.E é nessas horas que surge alguém das trevas,unido ao Diabo pra atormentar e dar respostas a todas as perguntas.-Que pergunta hein Carlos Eduardo da Fonseca Neto?Nem parece que é homem.E´claro que neste instante o namoradinho fiel da Laurinha está lá, se divertindo com os amigos e as amigas,afinal de contas,pra que serve o domingo se não temos os "amigos"?-bombardeia Léo em um tom de ironia fazendo acabar assim com o silêncio de Laura.-Pois é querido Léo,eu não vejo problema nenhum no meu namorado sair com os amigos dele,afinal de contas, eu também estou aqui, com vocês que são meu amigos.-Mas existem diferenças... ataca Gabi-Você não bebe. Lembra Léo- E´tímida,não sabe chegar nas pessoas.-opina Edu-E homem dona Laura,é diferente de vocês mulheres-fala Fernando dessa vez com uma voz assustadoras para os ouvidos de Laura.-Diferente como? pergunta Laura intrigada.-Explica pra ela Fernando?- pede Julia-Costumamos nos esquecer de que temos namorada...preciso dizer mais alguma coisa? - Dispara Fernando.-Como assim?Então vocês estão dizendo que posso estar sendo...-Traída!!!- respondem todos em um só côro que nem de longe se parece com um coral de anjos.-Traída,chifrada,passada pra trás,apunhalada pelas costas,o que você preferir amiga - dizia Gabriela sem conseguir conter o riso.Laura não suportava a idéia de estar sendo traída,enganada,precisava sair dalí,encontrar uma saída,uma forma de falar com Marcelo.Cadê a confiança e o alto controle que tinha até poucos minutos atrás?Pensou em como as pessoas são maliciosas e cruéis e de como gostam de ver as pessoas sofrendo e se alegram com a desgraça alheia.Mas Laura não podia deixar se abater.E as cartas? e as juras de amor? Tudo isso se resolveria.Era só uma questão de atitude.Ia telefonar pro Marcelo e tudo se esclareceria.Discou o número e o namorado atendeu ao primeiro toque.Estava aflito,morto de saudades,com um terrível sentimento de perda e furioso por que a namorada não havia ainda ligado.Laura por sua vez contou ao namorado o que havia acontecido no Shopping e ele a tranquilizou dizendo que nada e nem ninguém no Mundo tomaria o seu lugar em sua vida.E Laura agora mais calma e segura do amor que Marcelo nutria por ela conseguiu dormir a noite inteira, em paz.Mentira!Tudo isso que foi contado agora é mentira.Queria naquele momento que fosse verdade,mas infelizmente não foi.Para provar que todo Mundo estava enganado Laura telefonou para Marcelo.Ligou uma,duas,três,dez vezes e até perder as contas.O celular estava na caixa postal.Laura passou o resto da noite morrendo de ódio do namorado,prometendo uma vingança,amaldiçoando até sua décima quinta geração e sem lágrimas de tanto chorar.Entretanto, como nem tudo é eterno, nem mesmo o sofrimento, o dia amanhece e com ele as esperanças.A campainha toca.Despenteada,com olheiras e o rosto inchado de tanto chorar durante a noite vai até a porta.Ainda de mau humor lembrou que a tarde deixaria um recado pro sindico do prédio para avisar ao porteiro para anunciar antes de deixar que estranhos toquem a sua campainha.Afinal de contas,porque pagava um condominio tão caro?A campainha tocava insistentemente.Só podia ser o Edu-pensou- desesperado como sempre. Ele devia mesmos desculpas,ele e aquele bando de amigos ingratos.Abriu a porta.Laura não se conteve.Era ele,lindo como sempre,perfeito e com o sorriso mais fascinante deste Mundo.-Príncipe.-gritou Laura-mas eu te liguei a noite inteira.- falava com uma voz de choro.-E você se esqueceu que meu celular fica fora de área quando viajo?- reponde Marcelo com um sorriso nos lábios.E ficaram alí,no corredor,por alguns minutos,abraçados,sentindo o calor um do outro.Laura já não conseguia mais segurar a felicidade, e nem as lágrimas...E Laura percebeu que o que a movia naquele momento era a esperança.Porque ela amava muito Marcelo e morria de medo de perdê-lo,por que os momentos ao seu lado eram valiosos.O Mundo tinha outra forma, tinhas outras cores,parecia sorrir.Mas o dia passou rápido e mais uma vez um beijo separaria Laura e Marcelo.E aquela esperança que movia Laura?Bem,o ciúme continuou,os questionamentos também. mas Laura tinha a esperança de ver as coisas mudarem e melhorarem, e ansiava por um futuro... Um futuro onde seu encontro com Marcelo não teria mais prazo,vontade e nem aquela necessidade de acabar.Se ia ou não ia ser pra sempre, não era da competência de Laura.Isso ela não sabia e nem fazia questão,isso ela entregou nas mãos do destino e do amor.

Brigas de casal

Eu até tentei entender o porque Marcelo falava comigo naquele tom, com aquela voz, se eu sabia que estava certa. Na verdade nunca tinhamos brigado,sempre nos entendemos muito bem,mas naquela manhã tudo mudou.Mudou porque eu já estava contida de tanta raiva e mágoa e uma hora ou outra a gente estoura.
Bem, foi isso que aconteceu!
Aquele Sol escaldante do dia dez de novembro,eu totalmente descrente em relação aos nossos sentimentos,resolvi falar tudo o que estava guardado.Também pudera,nos ultimos dias vinha suportando muita coisa e sempre fingindo que estava tudo bem, pra não magoá-lo.
E Marcelo?
Ah, o Marcelo desligado como sempre não me deixava só em segundo plano em sua vida, mas em ultimo.Perder pra mãe,pai,filho,trabalho já é dificil, mas perder pra todo Mundo e ficar lá, em ultimo lugar na vida do outro não é uma coisa muito boa de se aceitar.Isso demanda muita prática e paciência.
E foi por isso que disse de uma vez só,tudo que estava entalado na minha garganta, que ele tinha pouca ou nenhuma boa vontade comigo, que eu estava cansada de suas atitudes e que faltava muito pouco pra eu poder terminar o que tinha acabado de começar.
Mas naquele momento havia me esquecido de que uma palavra dita num momento errado pode causar um rompimento.
E foi isso que aconteceu...
Marcelo se sentiu um nada(essa foi sua justificativa mais tarde),terminou comigo e desligou o telefone na minha cara.
Que ódio!Sabe quantas pessoas já fizeram isso comigo?Uma...O Marcelo.
Mas as vezes é preciso"engolir seco", esperar o outro se acalmar pra poder conversar e encontrar uma solução. E foi o que fizemos.
Apesar de ter passado toda a noite em claro chorando, me lamentando e tentando ir lá no início e ver porque a briga começou e entender que eu tinha que ceder,valeu a pena.
Valeu a pena porque aquele conselho que ouvimos dos sábios de que o tempo é o senhor da solução de problemas é verdadeiro.
O dia amanheceu e com ele veio também as esperanças.
Conversamos e eu senti naquele momento que eu e o Marcelo não estavamos afastados por opção, mas sim por circunstâncias que fogem ao nosso controle e que o nosso amor é um sentimento incomum,por ser único.
Resolvemos continuar e eu vou confessar uma coisa..
Sabe aquela sensação que a gente tem quando a paixão está se transformando em amor?
Pois é...
E' exatamente assim que me sinto hoje.
E que saber?
Dane-se os problemas,eu quero viver e enfrentá-los de cabeça erguida.Afinal de contas, nada aqui é perfeito e se fosse estaríamos não na Terra, mas no Paraíso.
E eu compreendi depois da nossa conversa que o Marcelo não é o meu Príncipe encantado.
Ele é homem, um ser humano com a personalidade forte,cheio de carências e dificuldades,acertos e erros, mas que eu amo demais e é com ele que quero ficar,não até quando me cansar dele(como ele mesmo diz),mas pra sempre,pra toda a eternidade.
E é com ele que quero tomar sorvete de ameixa,morango,abacaxi,baunilha,creme,côco,chocolate,flocos,de casquinha,copinho,cascão,banana split,sundae e milk shake. Quero que todos me olhem e se sintam felizes com a minha felicidade. Quero que mordam a língua todos aqueles que disseram palavras torpes,que de alguma forma me prejudicaram.
Da mesma forma quero fazer planos,viajar sem destino,atravessar fronteiras.Conhecer o japão, a India,Indonésia,a Africa e com o Marcelo acho que posso chegar até a Lua.
Quero poder ver de perto a alegria e a tristeza, a riqueza e a pobreza.
Quero passear em um parque.Andar na roda gigante,na montanha russa,brincar de balanço,eu sou assim.
E eu quero amar o Marcelo cada dia mais, como se este fosse o último dia da minha vida e que mesmo nesse constante confronto de ideologias,em meio a esse relacionamento complexo,possamos nos amar e nos entender melhor dia após a dia,por que o sentimento que nutro por ele é verdadeiro, é um amor inefável, e está presente até na ausência.